sexta-feira, 14 de março de 2008

Quando a noite cai

When Night is Falling ... Quand tombe la nuit ...
Sobre o Paredão



Quando cai a noite na cidade, há sempre um sonho e há magia. À noite na cidade, há sempre um sonho, até ser dia.
Poema de Anabela, Sara Tavares
Ah! o crepúsculo, o cair da noite, o acender das luzes nas grandes cidades E a mão de mistério que abafa o bulício, E o cansaço de tudo em nós que nos corrompe Para uma sensação exacta e precisa e activa da Vida. Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Vem, Noite silenciosa e extática, Vem envolver na noite manto branco O meu coração... Serenamente como uma brisa na tarde leve, tranqüilamente com um gesto materno afagando. Com as estrelas luzindo nas tuas mãos E a lua máscara misteriosa sobre a tua face, todos os sons soam de outra maneira quando tu vens. Quando tu entras baixam todas as vozes, Ninguém te vê entrar. Ninguém sabe quando entraste, Senão de repente, vendo que tudo se recolhe, Que tudo perde as arestas e as cores, E que no alto céu ainda claramente azul Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem. A lua começa a ser real. Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)



Vem, Noite antiquíssima e idêntica, Noite Rainha nascida destronada, Noite igual por dentro ao silêncio, Noite Com as estrelas lentejoulas rápidas No teu vestido franjado de Infinito. ... Vem sobre os mares, Sobre os mares maiores, Sobre os mares sem horizontes precisos, Vem e passa a mão pelo dorso da fera, E acalma-o misteriosamente, ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!
Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Vem, vagamente, Vem, levemente, Vem sozinha, solene, com as mãos caídas ... E deixa só uma luz e outra luz e mais outra, Na distância imprecisa e vagamente perturbadora, Na distância subitamente impossível de percorrer. Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)


É tão calma a noite. A noite é de nós dois. Ninguém amou assim nem há-de amar depois. Quando o amanhã nos separar, em nossa lembrança hão-de ficar beijos de verão, ternuras de luar, a brisa a murmurar uma canção. Tudo tem suave encanto quando a noite vem. A noite é só nossa, no mundo não há mais ninguém
Suave é a noite, Alcione
Neva sobre a Marginal quem me dera que mar fosse, o mar é muito mais doce e não fere o coração.
Luis Represas







És um corpo onde aporto, onde me perco a naufragar ...

Nossa Senhora das coisas impossíveis que procuramos em vão, dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela, dos propósitos que nos ... doem por sabermos que nunca os realizaremos... Vem, e embala-nos. Vem e afaga-nos. Beija-nos silenciosamente na fronte, tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam, senão por uma diferença na alma. Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)


Capa negra, rosa negra

Rosa negra sem roseira Abre-te bem nos meus ombros Como o vento numa bandeira. Abre-te bem nos meus ombros Vira costas à saudade Capa negra, rosa negra Bandeira de liberdade. Eu sou livre como as aves E passo a vida a cantar Coração que nasceu livre Não se pode acorrentar. Adriano Correia de Oliveira, Poema de Manuel Alegre










Se eu pudesse beber-te, ó noite, até encontrar o teu gosto. Ou mordendo a ponta do açoite da tua treva no meu rosto. Nictofagia, Natália Correia


Ó noite florida das sementes que trazes no punho, uma adolescência impelida pelo arco das brisas de junho! Nictofagia - Natália Correia

O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, mas não me tires o teu riso. Não me tires a rosa, a água que de súbito brota da tua alegria, a repentina onda de prata que em ti nasce. ... À beira do mar, no outono, teu riso deve erguer sua cascata de espuma ... Ri-te da noite, do dia, da lua, ri-te deste grosseiro rapaz que te ama, mas quando abro os olhos e os fecho, quando meus passos vão, quando voltam meus passos, nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso, porque então morreria. Pablo Neruda





Ó minha noite, em cada imagem Reconheço e adoro a tua face, Tão exaltadamente desejada, Tão exaltadamente encontrada, Que a vida há-de passar, sem que ela passe, Do fundo dos meus olhos onde está gravada. Noite - Sophia de Mello Breyner Andresen




De noite, amada, amarra teu coração ao meu e que eles no sonho derrotem as trevas como um duplo tambor combatendo no bosque contra o espesso muro das folhas molhadas. Nocturna travessia, brasa negra do sonho. ... Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro, à tenacidade que em teu peito bate. De Noite, Pablo Neruda








De madrugada saio para rua A cidade está à minha frente E de repente a cidade é minha e tua A cidade é de toda a gente Entre um gin e um beijo Vamos nós de bar em bar Sinto tudo o que vejo Há um brilho no ar. Poema de Anabela; música de Sara Tavares


Night Rider - Cavaleiro da noite junto ao Forte de São Julião da Barra.








Ao canto da noite esperava o dia que fossem horas de a ver chegar. Ao canto da noite já desesperava em todos os cantos que deixou p´ra trás. Luis Represas




Vi depois, numa rocha, uma cruz, e o teu barco negro dançava na luz. Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas. Dizem as velhas da praia que não voltas: São loucas! São loucas! Letra: David Mourão Ferreira; Música, Amália Rodrigues


Quando se fez ao largo a nave escura, na praia essa mulher ficou chorando, no doloroso aspecto figurando a lacrimosa estátua da amargura. ... E aquela pobre mãe, não dando conta Que o sol morrera, e que o luar desponta, A vista embebe na amplidão das vagas... Gonçalves Crespo, Nocturnos







Tejo que levas as águas

Correndo de par em par lava a cidade de mágoas leva as mágoas para o mar Música, Adriano Correia de Oliveira; Letra, Manuel da Fonseca

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